Visita à Alves de Sousa

Era uma terça-feira chuvosa e cinza mas de alta expectativa. Dia de visitar a Quinta da Gaivosa da família Alves de Sousa e provar seus ótimos vinhos.

O negócio do vinho está na família há muito tempo, mas foi nos primeiros anos da década de 90, pelas mãos de Domingos, que o sobrenome Alves de Sousa se tornou sinônimo de grandes vinhos. Vinhos de Quinta, com caráter e identidade! Domingos é também um pioneiro, pois foi um dos primeiros produtores do Douro a fazer vinhos de mesa de qualidade, uma vez que na altura o foco destes produtores era majoritariamente voltado para os vinhos do Porto, e os vinhos de mesa destinavam-se apenas ao consumo das famílias.

Domingos e Tiago em um programa de televisão sobre a Alves de Sousa

Seu primeiro vinho foi da vindima de 1991 e foi muito bem recebido pelos apreciadores e conhecedores. Estava alí marcado o início da trajetória de um dos melhores produtores de vinhos do Douro.

A família tem 6 Quintas, num total de 130 hectares. A Quinta da Gaivosa é a sede e onde se encontra a adega, agora em uma nova construção projetada pelo arquiteto António Belém Lima. O espaço imponente e funcional também abriga uma sala de provas e a loja de vinhos.

Fomos recebidos pelo Domingo e por seu filho Tiago, atual enólogo da casa. Ambos muito simpáticos e bem dispostos se mostraram profundamente envolvidos no seu trabalho, deixando-nos perceber que o fazem com muita paixão. Afinal para nós enófilos, o vinho é paixão e para eles produtores o ganha pão.

A Alves de Souza produz uma vasta gama de vinhos de variados estilos. Para o nossa prova selecionaram 7 vinhos entre Douros e Portos.

Vinhos selecionados especialmente para a visita da Viver Vinhos

Começamos com o Branco da Gaivosa 2015 – as uvas vêm das cotas mais altas da Quinta da Gaivosa, o que agrega acidez, e o estágio de 30% em carvalho francês confere volume de boca e untuosidade. Resulta num branco muito equilibrado e elegante, que vale muito mais do que custa. Foi perfeito para aguçar nossos sentidos para o que estava por vir.

Alves de Sousa Pessoal Branco 2008 – Isso mesmo, um branco com 8 anos de vindima. Um vinho que vai ficar marcado para sempre na memória. Sua produção é inspirada nos antigos Portos brancos da Quinta da Gaivosa, permitindo alguma oxidação. O que se obtém é um vinho intenso e complexo, com muita frescura, bom corpo e um final incrivelmente longo. Ainda pode ser guardado por muitos anos.

Vale da Raposa Sousão 2011 – Sousão é o nome que se dá no Douro à Vinhão dos Vinhos Verdes. Porém aqui ela é mais trabalhada gerando vinhos mais macios e palatáveis. Este apresentava muita fruta preta madura, alguma erva fresca e tostados. Taninos firmes, mas polidos. Corpo médio e boa frescura. Bela expressão da Sousão.

Quinta da Gaivosa 2011 – Este é o grande representante da Alves de Sousa. Dentre seus excelentes vinhos há quem prefira o Abandonado ou o Vinha de Lordelo, mas é no Gaivosa que encontramos o caráter e a identidade da Alves de Sousa. Na vindima de 2011 está esbanjando fruta preta madura muito bem casada com a barrica, também percebe-se a típica mineralidade, eucalipto e tostados. As vinhas velhas de mais de 80 anos agregam essa complexidade. Os taninos são aveludados e estão em ótimo equilíbrio com a fruta e a boa acidez. O final é longo, fresco e agradável. Um grande vinho,  elegante e cativante.

Material para acompanhamento da prova

Vale da Raposa Porto Fine White – Os Portos brancos são menos conhecidos e produzidos em menor escala, mas têm um estilo encantador. Este é intenso e complexo, com muita fruta seca, amêndoas e nozes, especiarias doces, mel, caramelo e um toque cítrico. Acidez alta em perfeito equilíbrio com a doçura. Final longo e amendoado. Ótimo!!

Quinta da Gaivosa Porto 20 Anos Tawny – Os Tawny 20 anos são muito interessantes, pois marcam a fronteira onde a fruta deixa lugar para os aromas terciários. A fruta que percebemos aqui já é em forma de compota, figo, pêssego e damasco. Também há muita fruta seca como avelãs e amêndoas. Cravo, mel, caramelo e chocolate branco. Os aromas vão se alternando, provocando e encantado. Ótimo corpo e intensidade de sabor, que reveste a boca e persiste longamente. Um vinho apaixonante, para ser bebido em boa companhia com uma bela vista, como essas das encostas do Douro.

O Tawny 20 Anos mereceu uma foto solo

Alves de Sousa Porto Vintage 2009 – Vintage é vintage! Este 2009 está jovem, cheio de músculos e vigor. É uma verdadeira pomada. Muita fruta do bosque madura, algum eucalipto e pimenta preta. Muita corpo, acidez, álcool, taninos redondos e uma longa vida pela frente. Gostaria de encontrá-lo novamente daqui a uns 20 anos.

Fim de prova e o encanto com os vinhos Alves de Sousa só aumenta. Poder prová-los no sítio de produção com muita informação e ambiente super agradável faz com que sejam melhores ainda. Foi uma visita inesquecível. Que venham outras!!

 

 

Posted on 18 de janeiro de 2017 in Experiências

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About the Author

Rodrigo criou a Viver Vinhos onde fala sobre vinhos e o prazer de bebe-los. Se deixou levar pelos encantos do mundo do vinho e hoje se dedica a sua divulgação e estudo. Compartilha informações e experiências de forma descontraída, com o intuito de ajudar as pessoas a entenderem e escolherem um bom vinho, fazendo com que o vinho esteja sempre presente em momentos únicos e inesquecíveis! Editor do Viver Vinhos e colaborador do site Belo Vinho. Certificado Nível 3 pela Wine & Spirits Education Trust (WSET), ex-professor na Associação Brasileira de Sommeliers (ABS-MG) e ex-diretor da SBAV-MG.

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